Fazer uma viagem de carro por Okinawa foi uma daquelas decisões simples que acabam por se tornar memoráveis. Foi ali, entre o azul intenso do mar e as colinas cobertas de vegetação, que descobrimos a Estrada Nacional 58 em Okinawa— uma das rotas mais bonitas do Japão e, honestamente, uma das mais relaxantes que já percorremos.
O Japão é conhecido pelas suas cidades vibrantes e pela eficiência dos comboios, mas em Okinawa tudo parece funcionar noutro ritmo. E essa estrada, que acompanha a costa desde Naha até à ponta norte da ilha, leva-nos numa viagem que é muito mais do que apenas deslocar-se de A a B. Leva-nos por praias escondidas, vilas cheias de carácter e paisagens que nos obrigam a parar o carro só para ficar a olhar. Se gostas de conduzir, de explorar ao teu ritmo e de te perder em caminhos bonitos, esta é a viagem certa para ti.
CONTEÚDOS DO ARTIGO
Por que escolhemos a Estrada 58 para esta viagem
Quando começámos a planear a nossa ida a Okinawa, percebemos que havia muita coisa para ver — e que confiar apenas nos transportes públicos ia limitar bastante o que conseguíamos fazer. Por isso, alugámos um carro, abrimos o mapa e deixámo-nos levar pela estrada mais promissora da ilha: a Estrada Nacional 58.
Ligando o sul da ilha ao extremo norte, esta estrada acompanha grande parte da costa oeste. Ao longo do caminho, cruzámos cidades, pequenas vilas piscatórias, praias incríveis, falésias dramáticas e florestas tropicais. Mas, acima de tudo, cruzámo-nos com o verdadeiro espírito de Okinawa — calmo, acolhedor e profundamente ligado à natureza.
O melhor de tudo? É uma estrada fácil de conduzir, com boa sinalização e várias oportunidades para parar e explorar sem pressas.
Como preparámos esta road trip
Não somos daqueles que planeiam cada minuto da viagem, mas também não gostamos de andar à deriva. Antes de aterrar em Naha, tratámos de reservar o carro através da plataforma Klook — segura e com preços acessíveis, o que nos deu bastante tranquilidade. Também podes reservar através da Discovercars.
Sabíamos que a condução em Okinawa é do lado esquerdo (como no Reino Unido), mas depois dos primeiros minutos a habituar o cérebro, tornou-se natural. As estradas estão em ótimo estado, o trânsito é calmo e os condutores locais são bastante respeitadores.
Levámos connosco o essencial: GPS no telemóvel (a ligação à internet esteve sempre estável, mesmo em zonas mais remotas), snacks, água, protetor solar e, claro, uma boa playlist para acompanhar o caminho. Também verificámos com antecedência onde podíamos parar — tanto para ver paisagens como para comer ou descansar. E foi exatamente essa mistura de preparação com espaço para o improviso que tornou esta road trip tão especial.
Itinerário na Estrada Nacional 58 em Okinawa
Dia 1 – De Naha até à American Village: começa a aventura
Saímos de Naha com o depósito cheio e aquela sensação boa de começar uma viagem. A cidade ficou para trás à medida que nos aproximávamos da costa, e bastaram poucos quilómetros na Estrada 58 para percebermos que estávamos num sítio especial.


A primeira grande paragem foi na American Village, em Chatan. Admitimos — ao início pareceu-nos demasiado turística. Mas assim que estacionámos o carro e começámos a explorar, percebemos que havia ali algo de único. É como uma pequena cidade americana plantada à beira-mar, cheia de edifícios coloridos, lojas peculiares e restaurantes para todos os gostos. Fomos diretos ao ZHYVAGO Coffee Works, mesmo em frente ao mar. O café estava ótimo, mas foi a vista e o ambiente descontraído que nos prenderam ali por mais tempo.


Continuámos a subir pela costa oeste. Parámos no Cape Zanpa, uma falésia impressionante que desafia o mar. O farol no topo dá um ar dramático à paisagem e o vento que se sente ali parece limpar a cabeça. Não havia muita gente, o que só tornou a experiência mais especial.
Mais à frente, encontrámos a Senaha Coast — uma daquelas descobertas inesperadas. A água era tão transparente que quase parecia vidro, e umas escadas meio escondidas levaram-nos até uma pequena praia que tivemos só para nós. Ficámos ali em silêncio, com os pés na areia e a sensação de ter encontrado um segredo bem guardado.


No caminho para Nago, ainda parámos no Cape Manzamo. A vista é de cortar a respiração, mas o que nos conquistou mesmo foi um pequeno stand chamado Mitsuya Honpo, onde provámos os famosos donuts de Okinawa. Acabados de fazer, ainda quentes, com sabores tradicionais como batata-doce roxa — foram, sem dúvida, uma das melhores surpresas do dia.
Ficámos alojados na praia de Kise, num hotel mesmo em frente ao mar. Vê aqui mais sobre onde ficar em Okinawa.
Dia 2 – Aquário de Okinawa


A manhã começou com uma vista única sobre o mar, no nosso hotel. Seguimos para norte, com um desvio até à Ilha de Sesoko, mas o nosso verdadeiro objetivo era visitar o Okinawa Churaumi Aquarium. Comprámos os bilhetes online aqui. Passámos o dia no aquário e foi uma experiência fantástica — não só pelo famoso tanque com tubarões-baleia, mas também pela envolvência com jardins e paisagens costeiras. Regressámos depois a Kise, onde estávamos alojados.
Dia 3 – Norte da Ilha
No dia seguinte, continuámos viagem rumo ao norte, onde a Estrada Nacional 58 atravessa uma das zonas mais selvagens e autênticas da ilha: o Parque Nacional de Yanbaru. Criado oficialmente em 2016, este parque protege a biodiversidade única da região e representa um dos últimos redutos de floresta subtropical em estado natural em Okinawa. A área abriga espécies endémicas, como o yanbaru kuina (Gallirallus okinawae), um pássaro raro que só pode ser encontrado aqui.
À medida que avançávamos, o trânsito desaparecia e a estrada tornava-se mais tranquila, serpenteando por entre florestas densas e encostas verdejantes. Foi aí que a viagem mudou de tom — menos paragens, mais contemplação. A paisagem obrigava-nos a reduzir a velocidade, não por causa da estrada, mas porque havia demasiado para ver.
A dada altura, parámos num pequeno miradouro sem nome, daqueles que não aparecem nos guias. A vista sobre a costa recortada e o azul profundo do mar ficou-nos gravada na memória. Às vezes, não é preciso fazer nada extraordinário para sentir que estamos exatamente onde devíamos estar — uma ideia alinhada com a filosofia japonesa do ichi-go ichi-e, que valoriza a beleza irrepetível de cada momento (Cousineau, 2010).


Seguimos caminho para o ponto mais a norte de Okinawa — o Cape Hedo (Hedo-misaki). A Estrada 58 nesta parte da viagem foi, provavelmente, a mais bonita de todas. De um lado, o mar azul profundo; do outro, montes cobertos de verde. Era impossível não parar o carro de vez em quando só para absorver a paisagem.
Chegar ao Cape Hedo foi como chegar ao fim do mundo. Lá em cima, no miradouro, sentimo-nos pequenos diante das falésias íngremes e do oceano que se estendia até ao horizonte. O silêncio era total, apenas interrompido pelo som do vento e das ondas a rebentar contra as rochas. Havia algumas bancas com petiscos locais, mas o que nos ficou mesmo na memória foi a paz daquele lugar — uma paz frequentemente descrita por viajantes como parte do encanto da Okinawa rural, onde o tempo parece mover-se mais devagar.


Antes de voltarmos para sul, encontrámos um café montado numa velha caravana Airstream, estacionada mesmo junto ao mar. Pedimos um café e uma tosta, sentámo-nos num banco de madeira e deixámo-nos estar ali — sem pressa, só a aproveitar o momento. Foi uma daquelas pausas simples que acabam por se tornar inesquecíveis.


O caminho de volta a Kise foi feito com a mesma calma com que viemos. A beleza da estrada fazia-nos querer prolongar cada quilómetro. Aproveitámos para fazer algumas paragens em miradouros como o Arashiyama Observatory e vilas costeiras que tínhamos deixado passar na ida.
Já perto do fim da tarde, chegámos de novo à zona de Kise e aproveitámos o resto do dia para descansar na praia e rever algumas das fotos e vídeos que tínhamos tirado. Nada como parar para saborear o que vivemos — literalmente e em todos os sentidos.
Onde ficar em Okinawa ao longo da Estrada 58
Ao longo da nossa road trip, dividimos a estadia em duas zonas diferentes da ilha: Naha e Kise. Em Naha, ficámos duas noites no Little Island Okinawa, simples, bem localizado e com tudo o que precisávamos para começar a viagem com o pé direito. Ideal para explorar a cidade a pé antes de arrancar para a estrada. Naha, sendo a capital da província, oferece fácil acesso a serviços, transportes e atrações culturais, como o famoso Castelo de Shuri, classificado como Património Mundial pela UNESCO.


Na zona de Kise, ficámos três noites no Kanehide Kise Beach Palace. Este foi o nosso refúgio à beira-mar — perfeito para descansar depois dos dias na estrada. A vista para o mar ao pequeno-almoço e os passeios ao fim do dia pela praia foram momentos que nos souberam mesmo bem.
Se quiseres algo mais económico, há também várias guesthouses e alojamentos locais espalhados pela estrada, especialmente em vilas como Onna e Motobu. O mais importante é escolher alojamentos que te permitam acordar com calma e começar cada dia de viagem sem pressas — porque esta estrada pede precisamente isso: tempo para ser vivida.
Vê aqui mais opções onde ficar em Okinawa.
O que comemos ao longo da Estrada 58
Uma das coisas que mais nos surpreendeu em Okinawa foi a comida. A Estrada 58 — que atravessa a ilha de sul a norte — acabou por ser o nosso melhor guia gastronómico. À medida que íamos subindo, fomos parando em sítios simples, locais, sem grandes planos — só com vontade de descobrir os sabores que fazem parte da identidade de Okinawa.


Começámos em Naha, no Mercado Público de Makishi. No rés-do-chão, escolhemos o peixe fresco numa das bancas e depois subimos para o restaurante no primeiro andar. Serviram-nos sashimi acabado de cortar, com aquele sabor puro e fresco do mar. Foi a introdução perfeita à gastronomia da ilha.
Mais para cima, já perto do Cape Manzamo, fizemos uma paragem doce no Mitsuya Honpo, uma loja pequenina que vende os famosos donuts de Okinawa. Vinham ainda quentes, super fofos e com sabores diferentes. Ficámos fãs logo à primeira dentada. Estes donuts, conhecidos como sata andagi, são uma especialidade local inspirada em doces chineses e muito comuns em festivais da região (Japan Centre, 2023).
Ao passarmos por Nago, provámos um dos pratos mais tradicionais da região: o Okinawa soba. É um tipo de noodle único, feito com farinha de trigo, servido num caldo leve mas saboroso, normalmente com carne de porco. É simples, reconfortante e muito típico — sentimos mesmo que estávamos a provar algo profundamente enraizado na cultura local.
No dia em que fomos até ao extremo norte da ilha, até ao Cape Hedo, encontrámos uma daquelas paragens inesperadas que ficam na memória: uma caravana Airstream transformada em café, mesmo à beira-mar. Pedimos uma tosta e um café e ficámos ali um bocado, só a olhar o mar. Foi um momento simples, mas tão bom. Às vezes, são estas pausas tranquilas que mais marcam uma viagem.
Já na reta final, em Onna, terminámos o dia no Garlic Shrimp, um restaurante descontraído com vista para o mar. Como o nome indica, o prato principal são camarões salteados em alho, servidos com arroz. Estavam incríveis, com aquele sabor intenso e reconfortante. Foi o jantar ideal para fechar o dia com sabor e boa energia.
Melhor altura para fazer esta road trip
Fizemos esta viagem em abril e, honestamente, apanhámos uma das melhores alturas para visitar Okinawa. O tempo estava ameno, com sol e pouco vento, e ainda longe das multidões do verão.
Se estiveres a pensar fazer o mesmo, recomendamos claramente os meses de abril a junho ou setembro a novembro. Em agosto, o calor é intenso, os preços sobem e há muito mais gente — e, nos meses de verão, há ainda o risco de tufões. Okinawa é linda o ano todo, mas nestas alturas tens tudo: bom tempo, menos confusão e a natureza no seu melhor.
O que levámos connosco para a viagem
Como sabíamos que íamos conduzir e fazer várias paragens, preparámos a mala com isso em mente. Levámos roupa leve, chinelos, fato de banho e uma toalha de praia — com tantas praias pelo caminho, nunca se sabe quando nos apetece um mergulho.
Importante: muitas das praias são desaconselhadas ou interditas a banhos por causa das alforrecas, especialmente nos meses mais quentes.
Okinawa tem uma estrutura muito boa e lojas de conveniência pelo caminho, por isso vais encontrando sítios para comprar snacks e água. Mas quanto mais para norte vais, mais remota a região se torna.
Outras estradas e caminhos bonitos — se tiveres mais tempo
A Estrada Nacional 58 é, sem dúvida, a grande protagonista da ilha, mas há outros caminhos secundários que vale a pena explorar se tiveres tempo extra. Nós próprios desviámo-nos algumas vezes, quase sempre por instinto, e descobrimos pequenos tesouros fora da rota principal.
Por exemplo, a estrada que leva até à ilha de Sesoko, ligada ao continente por uma ponte, é absolutamente encantadora. A própria ilha tem praias tranquilas e uma atmosfera mais local. E mesmo sem ires muito longe, basta sair da 58 e entrar em algumas das estradas interiores para encontrares florestas densas, trilhos e miradouros onde não está ninguém.
O importante é ir com tempo e sem um plano demasiado fechado. Okinawa recompensa quem se deixa levar — e foi precisamente nesses desvios que encontrámos muitos dos momentos mais autênticos da viagem.
Vale mesmo a pena conduzir em Okinawa?
Sim, vale. Aliás, depois desta experiência, não imaginamos ter feito Okinawa de outra forma. Ter carro deu-nos liberdade total para parar onde quiséssemos, explorar praias menos conhecidas e chegar a lugares como o Cape Hedo — que, sem transporte próprio, seria muito mais complicado.
A condução é tranquila, as estradas estão em bom estado e a sinalização em inglês ajuda bastante. Até conduzir do lado esquerdo acabou por ser fácil de adaptar. E com estacionamento gratuito na maior parte dos pontos turísticos, tudo se tornou simples.
Foi também ao volante que vivemos um dos nossos momentos preferidos: a paragem naquela caravana Airstream convertida em café, mesmo à beira da Estrada 58. Com um café numa mão e uma tosta na outra, ficámos ali a ver o mar e a saborear o silêncio. Só por isso já teria valido a pena.
Okinawa surpreendeu-nos. Não só pelas praias, pelas pessoas e pela cultura única, mas por esta estrada — a 58 — que nos mostrou tudo isso ao nosso ritmo. Foi uma viagem feita de pequenos momentos: um miradouro inesperado, um almoço de Okinawa soba num restaurante simples, donuts acabados de fazer, um mergulho espontâneo, uma conversa com um local.
Conduzir por aqui não é apenas deslocar-se — é ligar cada ponto da ilha com tempo, olhos abertos e mente disponível para o que aparecer. E quando damos por nós, percebemos que o que nos ficou não foi só o destino, mas o caminho em si.
Se estás à procura de uma viagem diferente no Japão, com equilíbrio entre descoberta e descanso, aventura e tranquilidade, esta é, sem dúvida, uma estrada que vale a pena percorrer. E mais do que isso: é uma viagem que se vive — e que se guarda para sempre.